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  • Karla Farias

O TDAH na vida adulta

Atualizado: 4 de mai. de 2020


O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ou TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, de causas genéticas, que surge na infância e é observado ao longo de toda a vida - Para entender os critérios diagnósticos leia a matéria “Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – TDAH” publicada pela Patricia Adnet. O TDAH é um transtorno altamente heterogêneo, o que quer dizer que pessoas diagnosticadas podem apresentar características totalmente distintas. Para lidar com a variabilidade de apresentações clínicas, a classificação diagnóstica foi dividida em três subtipos de TDAH: o predominantemente desatento, o predominantemente hiperativo/impulsivo e o misto, quando o indivíduo apresenta características dos dois subtipos.


Muito se fala no TDAH na criança, mas é necessário entender que os sintomas se mantêm ao longo da vida, com algumas modificações provenientes do amadurecimento e desenvolvimento de estratégias. Em muitos casos, por diversas questões, o diagnóstico só é feito na fase adulta, trazendo uma cascata de sentimentos contraditórios como alívio pela compreensão do próprio estilo de vida e tristeza pelo estigma de um diagnóstico.


Mais do que dificuldades no controle da atenção, do comportamento impulsivo e hiperativo, o TDAH é um transtorno que está relacionado com o desenvolvimento das chamadas funções executivas do cérebro. Essas funções evoluem desde a primeira infância e só estão totalmente prontas no início da segunda década da vida. As funções executivas gerenciam nossos processos de cognitivos de atenção, memória, impulsos, planejamento, etc.


O adulto TDAH apresenta grandes dificuldades na sua rotina por conta dos problemas em seis grandes funções descritas na literatura:


Ativação: Dificuldade para organizar tarefas e materiais, estimar tempos, priorizar e dar início a atividades. Comportamento procrastinador. Adia o início de tarefas até o limite. A frase comum dita pelo procrastinador é: “Eu só sei trabalhar sob pressão”.


Foco: Dificuldade para focar, manter o foco e alternar o foco entre duas tarefas diversas. O indivíduo diz que é facilmente distraído não só por coisas que acontecem a seu redor, mas também pelos próprios pensamentos. Focar na leitura pode ser tarefa quase impossível. Geralmente consegue entender as palavras que lê, mas precisa ler e reler o material muitas vezes para conseguir captar e memorizar seu sentido. “E como se estivesse apenas passando letras enquanto o pensamento está em outra dimensão”.


Esforço: Dificuldade para regular o estado de alerta, manter o esforço e trabalhar em uma velocidade de processamento adequada. Muitos relatam poder realizar projetos de curto prazo sem problemas, mas têm muita dificuldade em manter o esforço e o foco por períodos mais longos de tempo. Também têm dificuldade em completar tarefas dentro do prazo, especialmente quando envolve o que chamamos de alta carga cognitiva, como por exemplo, produzir textos. A dificuldade em regular o sono também é outra queixa. Dormir tarde por não conseguir aquietar os pensamentos e, depois de um sono pesado, ter dificuldade para levantar cedo.


Emoção: Dificuldade para lidar com frustração e regular emoções. Algumas pessoas relatam ter dificuldade para deixar a emoção de lado e continuar em frente com o que precisa ser feito. É como se as emoções tomassem conta de suas mentes e se tornassem o foco principal de seus pensamentos.


Memória de trabalho: Dificuldade para utilizar a memória de trabalho e acessar recordações. O indivíduo apresenta dificuldade para lembrar onde largou objetos, algo que alguém acabou de falar, ou mesmo recordar algo que estavam prestes a dizer. Tem dificuldade também para acessar as informações no momento em que mais precisa, mas recorda mais tarde. Na verdade, o que explica essas dificuldades não é um problema de memória, mas de atenção. É que na maioria das vezes, quando está fazendo as coisas, o foco está perdido, e o pensamento está “no mundo da lua”.


Ação: Dificuldade para monitorar e regular as próprias ações. Muitas pessoas com TDAH relatam problemas crônicos com a regulação de suas ações. São impulsivas na forma como falam e agem e também na maneira como pensam, tirando conclusões precipitadas e inadequadas. Essas pessoas relatam problemas em se automonitorar e agir de acordo como contexto em que se encontram. Elas não percebem quando outras pessoas ficam confusas, magoadas ou irritadas por algo que acabaram de dizer ou fazer e, dessa forma, falham em modular o comportamento em resposta a circunstâncias específicas. Muitas pessoas com TDAH também relatam dificuldades crônicas em regular o ritmo em suas ações, sendo difícil acelerar ou diminuir a velocidade de acordo com a necessidade de determinada tarefa ou situação.


Todos os prejuízos causados pelo TDAH tornam o indivíduo vulnerável a comorbidades como os transtornos de ansiedade e depressão. Os prejuízos funcionais podem envolver o âmbito acadêmico, profissional, doméstico, afetivo/sexual, social, trânsito e penal. Mas o ser humano está em constante transformação e o fato de ter o TDAH não é determinante de nada. As limitações impostas pelo transtorno são um obstáculo, mas não um veredito. Todos os dias podemos aprender novas habilidades e novas formas de fazer também o que já sabemos fazer. No caso do TDAH, o tratamento psicoterápico juntamente com o farmacológico mostra-se eficaz tanto para o próprio TDAH quanto para as comorbidades. Com o auxílio do neuropsicólogo o psiquiatra irá fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento farmacológico adequado para cada caso, enquanto o psicólogo irá, entre outras coisas, desenvolver juntamente com o paciente as estratégias para reestabelecer sua funcionalidade.


Fonte: Rohde, L. A. (org.) Guia para compreensão e manejo do TDAH da World Federation of ADHD. Porto Alegre: Artmed, 2019.

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