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  • Karla Farias

A construção da maturidade



As crianças brincam de ser adultas. Mas quando vem chegando essa fatídica fase da vida, o que se vê cada vez mais são pessoas que tentam adiar a todo custo assumir esse lugar. Pessoas que se recusam a sair de casa, assumir responsabilidades, manter relacionamentos sólidos, entre outras atribuições da vida adulta.


O fenômeno do amadurecimento cada vez mais tardio vem acontecendo de maneira expressiva nas gerações mais recentes. Estudos mostram que os jovens estão mais infantilizados e menos sociáveis. Os pais são convocados a administrar conflitos que outrora eram administrados pelos próprios jovens. O medo de assumir compromissos e riscos, fazer as próprias escolhas e lidar com as frustrações inerentes à vida tornam o jovem cada vez mais dependentes e prisioneiros de uma zona de conforto extremamente perigosa para a saúde mental.


O ser humano, assim como todos os seres vivos, tem uma tendência biológica inata de crescer, amadurecer e envelhecer. No entanto, o seu desenvolvimento emocional dependerá da interação com o mundo que o cerca, desde de os períodos mais remotos da vida. O sucesso profissional dos filhos muitas vezes é visto pelos pais como um certificado próprio de pais perfeitos. Além disso, em alguns casos a criação dos filhos é conduzida pela necessidade de serem aceitos a todo custo, e para isso se eximem de dizer não. A insegurança acerca do seu papel enquanto pais leva a uma superproteção que impede aos filhos de experimentarem o mundo e conhecerem seus próprios limites. Na ânsia de respeitar a individualidade dos filhos, paradoxalmente, alguns pais aceitam as escolhas imaturas dos filhos pequenos para não terem que contrariá-los, ao passo que, quando as crianças estão maiores, tomam a frente para fazer escolhas e tomar decisões difíceis por eles, impedindo-os de exercitar a autonomia.


O resultado da falta da construção da maturidade e da inteligência emocional saudável são adultos de 30 anos com comportamento infantilizado, bem como altas taxas de ansiedade, depressão e suicídio na população jovem. O vazio existencial, o sentimento de vulnerabilidade, a não identificação com o curso da própria vida, e a falta de propósitos são queixas comuns entre jovens que consequentemente não conseguem estabelecer vínculos afetivos seguros, bem como sentimento de realização. A percepção de si mesmo como incapaz transforma o indivíduo em eterno dependente, a princípio dos pais e posteriormente da sociedade e do poder público. Entende que todos devem provê-lo do que ele não se sente capaz de realizar. Os ganhos secundários que o mantém na sua zona de conforto acabam por reger toda a sua interação com o ambiente que o cerca. E esta visão de mundo pode se perpetuar pelas gerações seguintes.


A construção da maturidade se dá a partir do momento em que o indivíduo é conduzido nas primeiras escolhas e ao mesmo tempo é encorajado a experimentar o mundo de maneira segura, sabendo que é acompanhado de perto pelos pais, e que estes irão auxiliá-lo caso algo não dê certo. E enfim, os pais vão gradualmente saindo de cena à medida que o filho vai desenvolvendo a autonomia. Pessoas maduras conhecem seus limites, aceitam as consequências de suas escolhas e compreendem seu papel na sociedade, com respeito a si mesmos e ao outro.

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