
O trabalho confere ao Homem (gênero humano, independente do sexo) um caráter dignificante em nossa sociedade. Na maioria das vezes, passamos grande parte do tempo no ambiente de trabalho, e com isso podemos conviver mais com os colegas de trabalho do que com a família. A atividade laboral nos dá autonomia financeira e realização profissional. Direta ou indiretamente afeta o indivíduo como um todo e, através dela entramos em contato com pessoas das mais variadas origens e histórias de vida, oferecendo a oportunidade de ampliar a nossa visão de mundo.
Cada pessoa carrega consigo características particulares, que foram construídas ao longo da vida, a partir de tendências genéticas e experiências de vida. Essas características ou traços de personalidade irão influenciar a maneira com que os indivíduos reagem às pressões e responsabilidades inerentes ao cargo que ocupam dentro do ambiente de trabalho, seja ele um executivo ou um motoboy. A relação do indivíduo com o trabalho poderá ser funcional, quando afeta positivamente a si mesmo e ao ambiente, ou disfuncional quando afeta negativamente.
Muitas vezes as personalidades se chocam e ocorrem os atritos comuns nas relações de trabalho, que tendem a se dissipar em pouco tempo. Por outro lado, atritos e ameaças veladas, podem surgir e se manter quando membros da equipe sofrem de algum transtorno de personalidade que comprometa as relações sociais. Especialmente quando esta pessoa ocupa um cargo de chefia. Associados às tensões inerentes a cada segmento profissional, o assédio moral e as ameaças constantes de demissão tendem a adoecer toda uma equipe. Estudos têm mostrado uma alta incidência de casos da síndrome de Burnout em profissionais de saúde, em especial os intensivistas, professores e policiais.
A síndrome de Burnout ou síndrome do esgotamento profissional é uma doença decorrente do ambiente de trabalho hostil, e é caracterizada por um conjunto de sintomas distribuídos em três categorias: exaustão emocional, distanciamento afetivo e baixa realização profissional.
Na categoria exaustão emocional incluem-se a desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência, irritabilidade, tensão, diminuição da empatia, sensação de baixa energia, fraqueza, preocupação, aumento da suscetibilidade para doenças, cefaleia, náusea, tensão muscular, dor cervical ou lombar e distúrbios do sono. O distanciamento afetivo provoca a sensação de alienação em relação aos outros, comportamento cínico e predomínio de relações interpessoais frias e distantes. A baixa realização profissional caracteriza-se pela sensação de baixo rendimento e desqualificação das atividades desempenhadas.
O Burnout traz consequências para o indivíduo, o empregador e para o consumidor. Para o indivíduo ocorre um comprometimento da saúde física, psicológica e financeira, bem como das relações familiares e sociais. Para o empregador o prejuízo é decorrente do aumento de gastos, diminuição do engajamento da equipe e maior rotatividade, provenientes do aumento de faltas ao trabalho, queda da produtividade, licenças médicas e aposentadorias precoces. As consequências para o consumidor são a queda na qualidade do produto ou serviço e os transtornos decorrentes deste que podem variar de prejuízos financeiros a danos morais.
Através do processo terapêutico a pessoa acometida da síndrome de Burnout pode avaliar seus objetivos profissionais e pessoais e desenvolver estratégias funcionais para lidar com o estresse laboral. Além de tratar os casos já instalados desta doença ocupacional, o terapeuta cognitivo-comportamental pode desenvolver junto à empresa programas de prevenção à síndrome, envolvendo técnicas de relaxamento, reestruturação cognitiva e dinâmicas de grupo que promovam a integração da equipe e solução de problemas.