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Karla Farias

O reconhecimento do luto


Ao longo da vida todos nós passamos por perdas materiais, de pessoas queridas, de emprego, de saúde, em maior ou menor grau. Estes eventos geram diversas reações, comportamentais e emocionais, que variam entre diferentes pessoas ou grupos sociais. Da melancolia até a depressão, são várias as formas de expressarmos o que a perda nos causa. Diante de situações dramáticas algumas pessoas ficam paralisadas, com a sensação de que tudo acabou, enquanto outras conseguem dar a volta por cima e transformar o sofrimento em aprendizado e força para seguir adiante.

É normal e saudável chorar pelas nossas perdas. Durante os primeiros momentos podemos ficar confusos, descrentes, com raiva, ansiosos, nos sentindo culpados, com sensação de cansaço e desamparo. Algumas pessoas se isolam, choram, carregam consigo objetos que lembrem a pessoa que partiu ou o que foi materialmente perdido, muitas evitam pensar no que aconteceu. Outras pessoas sentem falta de ar, falta de energia, e outros ainda tornam-se hiperativos e hiper focados em algo que o ajuda a não entrar em contato com a dor. Mas estes sintomas devem ser passageiros. Aos poucos vamos retomando a vida, pois ela continua, de um jeito ou de outro.

Existe também o que é chamado luto não reconhecido, que é aquele no qual o indivíduo não se autoriza ou não é autorizado socialmente a enlutar-se. Seja pela morte de um animal de estimação, de um amante ou ex-cônjuge, de um paciente, pela perda de um bem material, de um status social ou financeiro, uma gravidez interrompida ou mesmo uma que não aconteceu quando se vem tentando. Até mesmo a derrota em uma competição e a não aprovação em um concurso podem se transformar em um luto não reconhecido. Muitas vezes sufocamos o sofrimento pelo sonho não realizado, pelo filho não criado, pela carreira interrompida pela aposentadoria, pela oportunidade não aproveitada, pelo casamento desfeito, pela perda de vigor físico e até pela mudança brusca na rotina.

Mas como ajudar o tempo a aliviar essa dor? O primeiro passo é aceitar o luto em toda a sua magnitude e nuances, e compreender que ele não vai durar para sempre, por mais intenso que seja. Com a aceitação da condição de enlutado nos permitimos cumprir os rituais de despedida próprios de cada situação. É fundamental aprender novas habilidades que tragam prazer e possam reduzir a ansiedade. Nesta fase é preciso falar sobre o que estamos sentindo, pois através do diálogo aberto com outras pessoas somos capazes de analisar nossas próprias crenças e modificar os nossos sentimentos e comportamentos. Diante da desesperança é importante investir em novos objetivos, novas amizades. E aos poucos a vida voltará ao normal. Caso esteja sendo muito difícil superar tudo isso sozinho, é importante buscar a ajuda de um profissional. A psicoterapia auxilia o enlutado a viver todas as fases desse processo de maneira segura. O psicólogo o guiará na compreensão e aceitação de que algo mudou e precisa ser reorganizado na vida.

Não existe fórmula mágica, ou receita para superar uma perda, pois cada indivíduo é um ser único, com tempo e necessidades próprios. O importante é que as pessoas próximas ajudem respeitando este tempo, validando o luto, dando carinho, apoio e atenção. Estamos aqui para viver e não podemos abrir mão desse direito. As dores devem ser vistas sempre como ferramenta de transformação positiva pessoal e da sociedade. O luto é natural e saudável, mas tem que ter hora para acabar.

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