Ao longo da vida todos nós passamos por perdas materiais, de pessoas queridas, de emprego, de saúde, em maior ou menor grau. Estes eventos geram diversas reações, comportamentais e emocionais, que variam entre diferentes pessoas ou grupos sociais. Da melancolia até a depressão, são várias as formas de expressarmos o que a perda nos causa. Diante de situações dramáticas algumas pessoas ficam paralisadas, com a sensação de que tudo acabou, enquanto outras conseguem dar a volta por cima e transformar o sofrimento em aprendizado e força para seguir adiante.
É normal e saudável chorar pelas nossas perdas. Durante os primeiros momentos podemos ficar confusos, descrentes, com raiva, ansiosos, nos sentindo culpados, com sensação de cansaço e desamparo. Algumas pessoas se isolam, choram, carregam consigo objetos que lembrem a pessoa que partiu ou o que foi materialmente perdido, muitas evitam pensar no que aconteceu. Outras pessoas sentem falta de ar, falta de energia, e outros ainda tornam-se hiperativos e hiper focados em algo que o ajuda a não entrar em contato com a dor. Mas estes sintomas devem ser passageiros. Aos poucos vamos retomando a vida, pois ela continua, de um jeito ou de outro.
Existe também o que é chamado luto não reconhecido, que é aquele no qual o indivíduo não se autoriza ou não é autorizado socialmente a enlutar-se. Seja pela morte de um animal de estimação, de um amante ou ex-cônjuge, de um paciente, pela perda de um bem material, de um status social ou financeiro, uma gravidez interrompida ou mesmo uma que não aconteceu quando se vem tentando. Até mesmo a derrota em uma competição e a não aprovação em um concurso podem se transformar em um luto não reconhecido. Muitas vezes sufocamos o sofrimento pelo sonho não realizado, pelo filho não criado, pela carreira interrompida pela aposentadoria, pela oportunidade não aproveitada, pelo casamento desfeito, pela perda de vigor físico e até pela mudança brusca na rotina.
Mas como ajudar o tempo a aliviar essa dor? O primeiro passo é aceitar o luto em toda a sua magnitude e nuances, e compreender que ele não vai durar para sempre, por mais intenso que seja. Com a aceitação da condição de enlutado nos permitimos cumprir os rituais de despedida próprios de cada situação. É fundamental aprender novas habilidades que tragam prazer e possam reduzir a ansiedade. Nesta fase é preciso falar sobre o que estamos sentindo, pois através do diálogo aberto com outras pessoas somos capazes de analisar nossas próprias crenças e modificar os nossos sentimentos e comportamentos. Diante da desesperança é importante investir em novos objetivos, novas amizades. E aos poucos a vida voltará ao normal. Caso esteja sendo muito difícil superar tudo isso sozinho, é importante buscar a ajuda de um profissional. A psicoterapia auxilia o enlutado a viver todas as fases desse processo de maneira segura. O psicólogo o guiará na compreensão e aceitação de que algo mudou e precisa ser reorganizado na vida.
Não existe fórmula mágica, ou receita para superar uma perda, pois cada indivíduo é um ser único, com tempo e necessidades próprios. O importante é que as pessoas próximas ajudem respeitando este tempo, validando o luto, dando carinho, apoio e atenção. Estamos aqui para viver e não podemos abrir mão desse direito. As dores devem ser vistas sempre como ferramenta de transformação positiva pessoal e da sociedade. O luto é natural e saudável, mas tem que ter hora para acabar.