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O adulto Asperger

Karla Farias

Apesar de sua alta especialização João não consegue um trabalho por não saber se portar em uma entrevista. Além disso, nunca conseguiu manter um relacionamento amoroso por sua frieza e excentricidade. Geralmente João não consegue manter uma boa conversa nos eventos sociais porque só consegue falar da sua profissão e de seu hobby, ele sabe tudo sobre física. Quando tenta falar de outros assuntos, costuma ser desastroso em suas colocações. Não importa se esteja em um evento alegre ou triste, suas roupas são sempre no mesmo estilo, sua conversa e suas expressões também.

Aos 37 anos João vive com os pais e tem poucos amigos. Algumas pessoas se irritam com seu modo interagir e muitos o consideram egoísta. Mas o que ninguém sabe é que João não é assim de propósito. Ele, assim como muitos outros adultos em todo o mundo, tem o transtorno do espectro autista de alto desempenho (TEA), conhecido como Síndrome de Asperger até 2013, quando foi publicada a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM V. Esta atualização do DSM trouxe a síndrome de Asperger como uma variação dentro do transtorno do espectro autista. O diagnóstico pode ser feito na infância, mas muitos casos só são identificados na fase adulta, diante de dificuldades como as apresentadas por João.

O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que acomete cerca de 1% da população mundial. Sua origem é de natureza multifatorial com grande impacto dos fatores genéticos, mas também influenciada por fatores ambientais. Os indivíduos com Asperger têm dificuldade de compreender a linguagem corporal, preocupações, conversas, humor, entonação de voz, bem como apresentam uma tendência a seguir rotina de forma rígida. Apresenta a característica de hiperfoco, que é algo que lhe atrai a atenção e sobre o qual gira seu pensamento e suas conversas. Muitas vezes o hiperfoco concentra-se em atividades que podem tornar-se hobby ou profissão.

Outra dificuldade apresentada é a de colocar-se no lugar do outro e compreender seus sentimentos. Esta capacidade é conhecida como empatia, e facilita inserção do indivíduo no seu grupo social. Quando são forçados a quebrar a rotina e o planejamento sentem-se emocionalmente desestabilizados. Apesar disso, muitos possuem alta capacidade cognitiva. Alguns apresentam inteligência acima da média da população. Sua memória costuma ser excepcional para detalhes como datas, por exemplo. A manifestação das características do indivíduo dependerá da sua história de vida, e por isso indivíduos Asperger podem apresentar características distintas.

O diagnóstico na maioria das vezes é libertador para o indivíduo, uma vez que o faz sentir-se finalmente compreendido, mas de alto impacto para a família, que tende a desqualificá-lo. A terapia cognitivo-comportamental vem como um suporte tanto para o indivíduo quanto para a família. Para o paciente, auxilia no desenvolvimento de habilidades para promover autonomia para a vida diária. O treino de habilidades sociais é fundamental para o sucesso da sua interação social e profissional e até para seu relacionamento sexual ou amoroso. Além disso, é comum o paciente apresentar sintomas de ansiedade e depressão decorrentes das dificuldades que apresenta para interagir com o mundo. O tratamento envolverá também técnicas de manejo desses sintomas. Para sua família e seus pares a terapia funciona como um suporte tanto para lidar com o diagnóstico e suas consequências, quanto para auxiliar o Asperger.

O indivíduo Asperger passando pelo tratamento psicoterápico consegue ter uma vida normal, saudável e com qualidade, uma vez que conhecendo suas potencialidades e fraquezas, é capaz de criar estratégias de manejo das situações do cotidiano.

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